quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Puppet

São 3:47 da manhã, você acorda.
São 4:12 e você está dirigindo seu carro a 150 km/h.
Isso não é um sonho.
Isso não é um pesadelo.
É apenas você cumprindo as minhas ordens.
Estou ao seu lado, falando em seu ouvido, “faça”, e você faz.
São 4:25 e você está sob o meu controle.
Puppet.
Dirija até a cidade A, compre café, de meia volta e passe na cidade B.
E lá vamos nós.
São 5:10 e tem uma corda em volta do seu pescoço.
_Acorde.
E você acorda.
Você assustado me pergunta o que está acontecendo.
Estou te mostrando como é fácil te domar.
Como é fácil te controlar.
E aqui estamos nós.
Você passa a mão em torno do seu pescoço e diz que está doendo.
Sim, está doendo, posso sentir.
Eu sou você, e você sou Eu.
Me pergunto como fui paras as 5 da manhã com uma corda no pescoço.
Você dá risada, “Eles tinham razão”
Sim, Eles sempre tem razão.
Você é um Deles, mas sempre se refere a você mesmo desta forma.
Nada mais importa.
Nada faz sentido.
E isso não é recente.
Sorrio e pergunto quando tudo isso começou, a corda se solta.
Estamos em um prédio, um bem alto.
Alto suficiente pra ver a curvatura da terra.
Alto suficiente pra ver muita coisa.
E você aponta em direção a vários lugares e me conta como aquele povoado surgiu.
Como as grandes corporações surgiram.
Como grandes marcas chegaram no que é hoje.
Como o Marlboro, cigarro inicialmente destinado a mulheres, virou um símbolo masculino pós guerra.
E eu simplesmente ouço tudo, tentando entender o que você quer me ensinar.
E você aponta em direção a vários lugares e diz que é tudo meu.
Não é meu, mas é seu.
E você ri de tudo isso.
Somos os donos do universo, o mundo em nossas mãos.
Mas tanto faz.
Você aponta o dedo para um carro preto: “capote, 3 giros, pegue fogo.”
“Levante e ande”
Um cadáver sem metade da cabeça sai de dentro do carro, se levanta, e anda.
Suas roupas estão pegando fogo, e seus ossos saindo do corpo, mas está andando.
E tudo o que você disser, assim será feito.
Porque é assim que as coisas funcionam.
Sempre foi.
Mas só agora percebi isso.
Você tem 10 anos, e quer assistir ao filme do “Gasparzinho”.
E o filme passa na televisão.
Você tem 15 anos e quer ouvir uma música.
E a rádio toca a música.
Sempre foi assim, só você não percebeu.
São 11:11 da manhã, e seus olhos brilham mais que o normal.
“É agora”.
Estou em uma montanha, e posso sentir um tremor.
“Terremoto”
E assim se fez.
Você é apenas uma criança brincando.
Quem é você?
E você com aquele maldito sorriso irônico começa a falar.
_Tudo isso que te mostrei hoje, por mais importante que tenha sido em seu período histórico, vai acabar.
Tudo isso que você consegue ver, vai acabar.
E já está acabando.
A morte aguarda atentamente o fim de cada vida, e nada dura para sempre.
São 12:35 e você me traz para casa.
Dou risada e volto a dormir.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Ela

Talvez tenha tido um acidente durante o parto.
Talvez sua mãe não teve os devidos cuidados após o seu nascimento.
Talvez nada disso mais importe.
Apenas misture.
Misture café com energético.
Misture sua maldita ansiedade com lembranças dela.
O seu corpo magro.
Seus ossos aparentes.
Seus olhos dissimulados.
Seu cabelo bagunçado.
Apenas misture.
Talvez a única coisa que preciso é de você ao meu lado.
Mas você está morta.
E isso fudeu com meu cérebro.
Talvez houve algo de errado no parto, isso deve ser mais comum do que se imagina.
Meu cérebro macetado contra o crânio.
Tento te esquecer, mas você insiste em me dar bom dia.
Insiste em permanecer na minha mente.
E não há nada que não me faça lembrar de você.
Apenas misture.
E você esta ao meu lado, falando em meu ouvido.
Apenas peço que vá embora.
Mas antes de ir, fique mais um pouco, me fale sobre seus sonhos.
Me fale.
Mais uma xícara de café.
Mais um cigarro.
Mais memorias.
E tudo isso apenas fode com meu cérebro.
Talvez algo aconteceu quando ainda era pequeno.
Talvez a água estava contaminada.
Cloro de mais.
Apenas misture.
E você esta na minha frente, com seu vestido vermelho.
Só peço um minuto.
Apenas gostaria de estar ao seu lado.
A música está alta de mais, não consigo te ouvir.
Gostaria de estar em um filme, e poder voltar no tempo, fazer tudo diferente.
Ser diferente.
Mas o maldito coelho não sai da minha mente.
A maldita farpa.
Seu maldito nome.
E você não sai da minha mente.
Talvez tenha sonhado de mais.
Talvez.

Cópia da Cópia

Seu enorme sorriso.
Seus dentes brancos perfeitamente alinhados.
Seu corpo feito em uma academia, nutrido com uma alimentação saudável.
Em um piscar de olhos minha mente volta a sua origem, volto a ser o que sempre fui e jamais deixarei de ser.
E tudo o que quero é espedaçar seus dentes.
Te dar um belo motivo para fechar esta boca.
Apenas te trazer para a realidade, para a Real Life.
Abrir seus olhos.
É sonhar de mais?
Imagino seus dentes quebrados, sua cabeça raspada...
Imagino seu corpo jogado em um beco qualquer, e um sorriso surge em meu rosto.
Apenas gostaria de te mostrar outro ponto de vista.
A sua perfeição me enoja, ânsia de vomito.
Meu almoço volta para minha boca, e agora são 12:08.
Apenas preciso sair daqui, você já nasceu morta.
Um caso perdido.
Uma porca burguesa.
Eu sou apenas o invisível.

O maldito coelho apenas acena de forma negativa, abaixo a cabeça.
“Obrigado”

domingo, 18 de dezembro de 2016

Visita

Em seu quarto, com as portas e janelas fechadas, posso ouvir sua voz baixa, pedindo, suplicando por ajuda. Seus joelhos dobrados sobre o chão, com seus braços apoiados sobre a cama, esta orando, pedindo ajuda ao divino.
Tenho medo de religião, e você deveria ter também, a menos que tenha certeza que esta orando para o deus certo.
A temperatura cai, o vento gelado toma conta do quarto, e não, não é um anjo ou ajuda divina. É apenas a minha presença, te observando, tentando entender o que você quer. Por que insiste tanto? Já te alertei muitas vezes, de todas as formas que pude, mas estamos aqui outra vez, você chorando sobre os lenções branco da cama. Seu choro é em vão, seus problemas não serão resolvidos com lagrimas ou com palavras de suplica.
Me sento na cama, a poucos centímetros de distância, passo a mão em seu cabelo, colocando as suas mexas atrás da orelha. Você sente a minha presença, sua voz fica mais alta, seus pelos se arrepiam, e posso ver seus olhos forçados para se manterem fechados. Não vim fazer mal, apenas gosto de vagar pela sua casa, de ver a ironia na forma em que você organiza os moveis, os portas retratos... Estou aqui porque gosto daqui, me sinto bem, mas você não entende isso.
Me levanto da sua cama, vou até a sua sala, me sento na poltrona, o som que ela faz, o plástico grunhindo, a madeira estralando, mas logo você vem em minha direção, segurando um crucifixo de madeira, dou risada, entendo o recado, estou te assustando, me desculpe, me levanto, passo ao seu lado e assopro na sua nuca, você da um grito alto e agudo, o suficiente para que seus vizinhos ouçam, dou risada, desculpe, aquilo foi inevitável, não consegui resistir, vou embora, andar pelas ruas noturnas da cidade, relembrar o meu passado e talvez encontrar alguém que  queira me ver.

Boa noite amor, sonhe com os anjos.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Tributo a Palahniuk

Você acorda, e hoje é domingo, mas tanto faz.
Faltam 9 dias para o Natal, mas tanto faz.
Hoje é apenas mais um dia pacato que insiste em começar.
Apenas mais um dia como qualquer outro, e você se pergunta: “Qual o motivo de tudo isso?”
Mas no fundo você sabe, não há sentido, é apenas o que é, nada de especial, nada para se glorificar ou blasfemar, apenas o que é. E você fica inquieto quanto a isso.
Amanhã é segunda-feira e você terá que levantar cedo e ir trabalhar, mas tanto faz.
Os dias são todos iguais, exatamente iguais, mas tanto faz.
Você apenas quer ter um bom motivo pra continuar com essa merda.
Descarte religião, aquelas bobagens não entra em sua mente.
Descarte relacionamentos baratos.
Descarte bebidas e drogas.
Descarte todas essas merdas, porque você já andou por estas ruas, e sabe o que vai encontrar no final.
Não são esses significados que você esta procurando, não mesmo.
Você apenas precisa de um maldito significado pra essa merda, mas no fundo sabe que não há nada de especial, e esta é sua decadência.
O coelho branco é uma ilusão, ele não existe.
Todos os seus personagens fictícios são delírios.
Alice, Morpheus, Tyler, Donnie.
Estão todos mortos. Bem mortos.
Fudidamente mortos.
E você apenas quer um sentido pra toda está merda.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Descaso

As 2 da manhã se aproxima
A música passando por nós
O diabo sorrindo no reflexo do carro

Oque a torna tão especial? Não há motivos para eu me apegar em alguém em tão pouco tempo, aliás, sou o Tescaro... Não sou?
Minhas mãos percorrem seu corpo
Seu pescoço pertence as minhas caricias
Minha jaqueta pregada contra a parede

Não era qualquer jaqueta. Paguei caro por ela, minha blusa favorita... Preta por fora, couro sintético, caveiras como estampa em um pano branco na parte interna.
Sua língua invadindo minha boca
O gosto do cigarro já me pertence
O batom escuro já não existe

Não sei que horas são, e nem o quanto está tarde. Meu passado está morto, e meu futuro entregue aos seus braços.
Suas mãos me rodeiam
Sua orelha, minha vitima
Minha voz em seu ouvido

Gravo todos os detalhes de cada segundo, e fiz bem fazendo isso. Seu cheiro em minhas roupas, o gosto do seu batom em meus lábios, suas medidas em minhas mãos.
Seu olhar de desejo
A discórdia na sua mente
Em sua língua a minha decadência
Desejo seu corpo nu, nossas carnes coladas uma a outra. Nossas almas em uma sinfonia frenética, nossas línguas entrelaçadas.

O passado em meus olhos
A dopamina em meu corpo
O descaso me sorri

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Passado

Meu maior medo se manifesta bem na minha frente. Ele se chama passado, repleto de ideias inacabadas e de destinos fracassados, um completo descaso já tomado pela poeira do abandono. Meu corpo é tomado por medo, receio e de todos os sentimentos que por um momento existiam só na minha mais oculta lembrança. Em questão de minutos já não sou mais o mesmo, meu rosto pálido se refugia na segurança da minha barba, minhas mão tremem e sinto dificuldade em digitar. Estou inquieto e permaneço por pouco tempo em silencio, logo me vejo fumando o segundo maço de Marlboro, cigarro após cigarro, como se isto fosse a minha única esperança. O Whisky desce queimando pela minha garganta, sinto meu corpo sendo aquecido por aquela maldita bebida, e a única coisa que vem em mente é me embriagar o mais rápido possível.
A incerteza e a dúvida são minhas aliadas, ao meu lado, me questionando, e pedindo a minha queda, sou logo dominado e me vejo conversando com as paredes.
A sua presença me queima, me sinto como um rato de esgoto, como uma barata após ser pisoteada em um metro. Volto a ser o garoto tímido que acreditava em deus.
Todas essas lembranças da um nó no meu cérebro, preciso de um tempo, não...
...preciso de uma bebida mais forte.