quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Espelho

O que dizer sobre você?
Dizer que mal te conheço.
Não sei como é seu cheiro.
Não sei escrever seu sobrenome.
Mas mesmo assim, você não sai da minha mente.
Estou diante do espelho, e ele sorri.
Seus malditos dentes brancos, perfeitamente alinhados.
Sua barba alinhada.
E não me canso de descrever esse seu sorriso.
Ele gargalha com cada decisão minha.
Ele sou eu.
Quebro o espelho, e minha mão sangra.
O que há de especial em você?
Saia da minha cabeça.
De todas essas vozes, a sua se destaca.
Não há nada de especial, eu digo.
Mas ele sorri, e sabe que eu minto.
Foda-se todas essas merdas.
Desisto.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Segunda-feira

Ele esta sentado na minha frente, no banco de cimento.
Usa uma bermuda bege e uma camiseta branca.
_Você me assustou.
E quando você não se assusta?
_Não me assustei ontem.
Claro.
Ele diz isso sorrindo.
Ele sempre esta sorrindo, como se tudo o que dissesse fosse uma piada.
Uma maldita piada.
_Como estão as coisas?
Que tipo de pergunta é essa? Desistiu de entender as pessoas?
_Só estou tentando perguntar algo diferente.. O que você faz quando não esta comigo?
Sempre estou contigo. Estamos ligados. Mas você já sabe disso. Onde quer chegar?
_Só pensei que poderia conversar.
Pensou errado. Qual a novidade?
Ele gargalha.
_Sobre seu sonho, já descobriu o significado?
Nem pensei a respeito. Achei que era um sonho qualquer.. você sabe o significado dele?

domingo, 24 de setembro de 2017

while(1)

As luzes estão apagadas.
A claridade vem da brecha da janela.
Garrafa de vinho na cabeceira.
Ela pede pra que eu não beba, mas minha mente grita mais alto.
Qual o seu maldito problema?
Menos um copo, e foda-se as taças.
Alguma música aleatória tocando, mas nem presto atenção.
Pego algum livro pra ler, e a história é apenas uma história.
A jornada do herói.
É sempre a mesma coisa.
loop.
Amaldiçoou seu nome.
Ele surge sorrindo.
Veste uma camisa cinza e calça jeans, e segura uma taça.
_Posso me servir?
O vinho vermelho escurece.
O que há de errado com as pessoas? Pergunto.
Ele ri enquanto saboreia o vinho.
_Novamente esta história? Achei que já tinha aprendido...
Pare de falar como um maldito personagem de filme, porra!
_Sou aquilo que você acredita que eu sou, e nada além disso. Culpe a você mesmo.
O vinho em sua taça ganha movimento.
O seu vinho, que merda é essa?

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Vermelho

Acordo com você no meu quarto, revirando minhas roupas jogadas pelo chão.
_o que você está fazendo?
"Tô procurando o isqueiro"
_esta na gaveta da esquerda..
Você entra no banheiro, a fumaça do chuveiro e do cigarro se misturam, e meu quarto vira uma sauna.
Estico o braço e pego o celular, são 6:17, e você está tomando banho.
Me levanto, e vou ao banheiro.
Observo seu corpo branco, seu cabelo vermelho ensaboado.
_o shampoo é de barba..
"E daí?" Você fala sorrindo, e desenha um dedo do meio no box do banheiro.
São 6:50 e você pede uma carona.
Fico pensando se vou te ver novamente.
Você está secando o cabelo com a minha toalha, e diz que o meu quarto é muito bagunçado.
Sorrio.
_vamos?

domingo, 17 de setembro de 2017

Oi

Te observo de longe.
Seu olhar de desinteresse.
Seu rosto cansado.
Sua pele desbotada.
Seu cabelo por pentear.
Conheço seu sorriso forçado.
As roupas que você veste.
Vejo em você o meu reflexo.
Gostaria de me aproximar, dizer que tudo vai ficar bem, e que seu futuro será lindo.
Mas estaria mentindo a mim mesmo.
Nós dois sabemos que tudo é apenas uma questão de tempo.
E mesmo que nunca tenha ouvido a sua voz, te conheço muito bem.
Talvez um dia eu te diga "oi"
Mas tenho medo que você se assuste.
Medo.

sábado, 16 de setembro de 2017

Boa noite

Por um breve momento tive fé.
Era apenas uma cópia.
Cópia da cópia.
E no fim, nada realmente é diferente.
Neste loop, tudo é apenas uma questão de tempo.
E em poucos segundos tudo volta a se repetir.
Mesma trilha sonora.
Mesmo fim.
Me pergunto o que realmente importa.
Você?
Não.
Somos apenas corpos em decomposição.
Desinteresse.
Se apegar tão facilmente, é uma merda.
Apenas, desapareça.

Bom Dia

Levante.
Lave o rosto.
Menos uma fileira.
Conte o seu dinheiro.
Seja previsível, diga bom dia.
Abotoe a gola do seu uniforme.
Vista a calça jeans, a mesma de ontem.
Force um sorriso diante do espelho, não tão falso.
Pegue a chave do carro, esqueça a sua carteira na mesa.
Volte, pegue a carteira e aproveite para se olhar novamente no espelho.
Esse maldito sorriso de dentes brancos, todos perfeitamente alinhados.
Se odeie por mais alguns segundos, até perceber que está atrasado, terceira vez na semana?
O crachá está preso em seu uniforme, e seu sorriso estampado está logo acima do seu sobrenome abreviado.
Pergunte ao seu subconsciente se tudo isso realmente é necessário, se você não pode simplesmente ficar em casa.
A conta de luz está em cima da mesa, junto a várias outras cobranças, todas com seu nome, mas com o sobrenome completo.
Neste momento, o telefone toca, e te trás de volta para a realidade, você fica se olhando no espelho, apreciando seu rosto com olheiras e lábios sem cor.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Você

Não consigo dormir.
Quantos calmantes já tomei?
E talvez este seja o meu fim.
Quantos cigarros já fumei?
E este é o meu começo.
Imagino o seu corpo nu, nossas carnes coladas, nossas línguas entrelaçadas, minhas mãos percorrendo seu lindo corpo.
E talvez este seja o meu suicídio.
Eu te desejo, dia após noite.
Viro noites lembrando o nosso passado.
Crises e brigas parecem besteiras.
Apenas cansei de dormi só.
Venha ao meu lado, te faço cafuné até você dormir.
Transaremos chapados.
Eu e você​ olhando as estrelas.
E tudo me lembra você

Máscara

Coloque sua máscara.
Vista sua jaqueta.
Não se esqueça de contar a piada do banheiro.
E talvez assim você passe despercebido.
Apenas esqueça por um momento quem você é, e seja este maldito ator.
E isto te define.
Esqueça seus desejos.
Hoje, você vive para eles.
E eles são exigentes.
Nesta briga de cães, quem fica com os diamantes?

sábado, 9 de setembro de 2017

Sábado

Estou sentado em uma cadeira de área, que também poderia ser usada em um bar.
A cadeira é de plástico, branca, com apoios para os braços.
Acendo um cigarro, e observo a fumaça dançar, se contorcendo e lutando contra o vento.
Ouço o som dos carros passando na estrada mais próxima, ecoando nas construções vazias.
Observo a grama verde.
E por um breve momento me sinto em outro mundo.
Como se tivesse acabado de descobrir a cor da grama.
Como se nunca tivesse observado o fundo de casa.
E por mais simples que isso possa parecer, foi um dos melhores dias que tive esta semana.
Por um breve momento abri mão de todos os valores.
E talvez esta seja a verdadeira felicidade.
A tão sonhada verdade.

Entranhas

E por um momento julguei estar vivendo a verdade.
Mas era apenas um ponto de vista, como qualquer outro.
A ignorância é uma benção, e a verdade é uma doença.
Seus remédios não funcionam.
Sua voz em minha mente, em loop infinito.
Ouço várias vezes seguidas, tentando encontrar qualquer vestígio.
Sou apenas mais um, e não há nada em especial.
Apenas, pare.