domingo, 23 de outubro de 2016

Sr Ninguém

Você está sendo observado, não somente agora, em todos os momentos de sua vida. No banheiro, na faculdade, no trabalho, em seus momentos de prazer. Olhos por todos os lados, você não tem privacidade, nunca teve. Seu primeiro beijo, sua primeira foda, está tudo filmado, câmeras por todas as partes te perseguem, vai se esconder? Lá terá câmeras.
Pássaros sobrevoam os céus, crianças passeiam pelo parque, um dia como os outros. Mas não. Você é o único humano. Tudo ao seu redor é falso, neste momento você não passa de uma cobaia, uma mera cobaia. Cega pelo belo mundo ao redor, pela farsa ao seu redor. Se você prestasse mais atenção no mundo, menos no seu status, ou filtros do Instagram, quem sabe você já teria notado?
Tudo não passa de uma experiência, e você é o rato de laboratório. Com quem você convive? Passa a maior parte de seu tempo bêbado ou drogado, no trabalho sempre está dormindo acordado, como poderia esperar que alguém como você fosse descobrir o óbvio? A ignorância é uma benção?
Sua filosofia se resume ao tamanho de seus peitos, as frases de redes sociais, você realmente sabe ler? Sua existência é insignificante, a frase da sua tatuagem é sua marca da besta, a ignorância pregada em seu corpo.
De qualquer forma, vamos direto ao ponto, sua insignificância, ela pode acabar, abre os olhos, veja o seu redor, cadáveres ambulantes, zumbis fazendo compras, esquerdistas cegos pela própria existência, saias ambulantes pelas ruas, cães vestidos de policiais e lobos com ternos.

“Garota seu sexo só se celebra melhor quando se prostitui”

Blue

Seu cabelo azul escuro, liso, seu corpo magro e sem curvas. O tipo de menina que me faria ficar louco, literalmente...
Ela está sentada em uma poltrona, na sala de sua casa. Seu pai deitado no sofá, sua mãe dormindo.
No waths app, conversando com seus amigos de escola, as férias estão terminando, semana que vem volta as aulas.
Em sua cabeça só se passa o porquê do David não lhe dar atenção, afinal, ele é hétero?? Ela não é a mais bonita de sua sala, seu corpo é magro e sem grandes atrativos, mas de qualquer forma, como um homem poderia lhe dar um fora?
Só de pensar nisso se levanta irritada, vai até seu quarto, pega uma de suas capsulas do “pó milagroso” e segue em direção ao banheiro, se tranca, o ritual dá início.
Ela não é qualquer viciada, antes de se drogar há uma cerimônia, um processo...
Tira a sua roupa, começando por sua camiseta, branca e de alcinha, depois o short jeans, curto e pouca coisa folgado, seu sutiã e por último sua calcinha, ambos pretos...
Coloca seu celular e os fone de ouvido em cima da pia do banheiro, e antes de prosseguir, para e se observa no espelho, vê uma garota com cara de brava, com seu cabelo azul, sem tatuagens, apenas cicatrizes internas...
Abre a capsula, espalha o pó em forma de fileira, ajeita com as próprias mãos, coloca seus fones de ouvido, da o play no Eletric Moon, a música logo domina o seu corpo, fecha os olhos e respira fundo, calmamente. Puxa seu cabelo para traz, o jogando sobre as suas costas, inclina seu delicado rosto sobre a pia, tampa a narina direita, e com uma respirada funda percorre metade da fileira, levanta a cabeça, a jogando para trás, se apoia na parede... Foda-se os céus, aquela sensação é perfeita... Se senta sobre o vaso sanitário, abre suas pernas, e começa a se masturbar, ri sozinha e se imagina no lugar da Sasha Grey, homens sedentos por buceta de joelhos aos seus pés, todos te querem, o universo gira ao seu redor..
Alguns segundos e seu grelho já está molhado, passa seus dedos naquele delicioso mel, e leva até sua pequena boca, adora sentir seu gosto, ou seria se imaginar chupando outra garota? Volta a se masturbar, se penetrando com seus dedos, sentindo o corpo se arrepiar, suas pernas se contorce, briga consigo mesma, tira a mão, volta a colocar, seu gozo escorre entre suas pernas. Lembra do resto da fileira, se levanta e termina o trabalho, seu pó semanal termina... A música junto a cocaína, gosto de ferrugem na boca, o ápice do seu prazer...

Vai até o box do banheiro, e toma um banho com água morna, volta a se lembrar do David, foda-se aquele viadinho, não preciso dele.

Esboço

12:04, ela está atrasada... Marcamos de nós encontrarmos as 11:30. Restaurante Mama San, primeira vez que venho, lugar com decoração vintage, todo estilizado. Estou na mesa encostada na parede, no canto próximo as janelas. O melhor lugar para se almoçar, jogar conversa fora e apreciar a bela rua movimentada pela janela.
A música de fundo é Arctic Monkeys, “Of trying to kiss you...”, e na porta, Ela. Seria gay dizer que meu coração acelerou? Bem, foi o que aconteceu. Não sou do tipo garanhão ou que tem uma vida sexual muito ativa, mas, de todas as garotas que já sai... Nenhumas delas usavam uma touca vermelha no primeiro encontro. Cabelos ruivos encaracolados, com as pontas próximas a loiro. Pele branca, muito branca, me lembrando uma vampira. Batom vermelho em seus belos lábios, camiseta branca embaixo de uma pequena jaqueta jeans clara. Calça e tênis pretos.
Aceno, ela retribui com o mais belo sorriso e caminha em minha direção. Me levanto, e como um garoto de 10 anos dou um sorriso bobo. Lhe abraço e comprimento com um beijo em seu rosto. Ela se senta na lateral da mesa, ficando assim em meio termo entre estar ao lado e de frente. Não consigo parar de olhar em seus lábios, vermelhos, com essa pele branquinha, contracenando com seus belos dentes alinhados.
O cardápio pouco me interessa, o meu objetivo está bem ao meu lado. Ela me conta sobre suas bandas favoritas, e por mais que ela já tenha me dito, ver pessoalmente esses lindos lábios pronunciarem... Bem, pode continuar falando. Lhe convido para dar uma volta, tem uma praça aqui perto, não é uma armadilha de veludo, mas é a única coisa que consigo pensar.
Nos levantamos, vou ao caixa e pago a conta, uma água sem gás, que ela pediu, e um suco de laranja, que nem relei. Olho para trás, e a vejo próxima a porta, como uma borboleta plainando em um jardim em uma bela tarde de sol.
A praça é bem grande, com muitas arvores, caminhamos no corredor que vai até o centro, onde há um parquinho de crianças, com escorregadores e gira-gira. Vejo um banco a esquerda, lugar mais afastado e escondido, aponto na direção, ela sorri e vamos até lá.

Poucas palavras são trocadas, já fizemos isso no bar, passo minha mão em seu cabelo, elogio, ela tira a touca, e assim percebo, ela realmente é linda. Jogo um pouco de seu cabelo para trás de sua orelha direita, continuo com minha mão até sua nuca, sorrio e levo minha boca até a sua. Seu beijo... É diferente. E por mais que seja repetitivo dizer isso, apenas acredite. Não sei como descrever, mas, é algo exatamente como a sua aparência, mistura de várias experiências que já tive, mas com um toque completamente novo. Minhas mãos logo já dominam seu corpo, e me vejo abraçado com aquela bela mulher, o seu cheiro, sua pele macia, o gosto de seu batom vermelho. Ela já me pertence. 

Prostituta

Quando pequena, sua mãe dizia que iria se tornar uma grande empresaria, do tipo que tem tudo, e se casaria com o Don Juan. A verdade dói, principalmente em quem acredita na dor.
Aos 18 anos, tirou carta, esperou um carro de aniversario, seu pai, um pobre office boy, não tinha dinheiro nem para comprar papel higiênico. Sua mãe trabalhava como secretaria de um homem rico, nada como uma boa secretaria para aliviar seus stress, não é mesmo?
Iniciou no curso de administração, faculdade particular, não passou nas públicas, mensalidade cara, amigas ricas, e onde vem o dinheiro alheio?
Conheceu a prostituição através de uma de suas amigas, IPhone, perfumes importados, saia e salto alto... A resposta foi clara e rápida, sem dificuldades, "saio com uns caras, eles me pagam bem", simples.
E porque não? Trocar o prazer por dinheiro, sonho de muitos... Realidades para outros. E assim fez.
Loira tingida, com as raízes pretas, indo clareando até um quase branco nas pontas, tamanho médio, chegando perto do meio de suas costas, com uma franja cobrindo sua testa, da direita para a esquerda... Pele clara, sem qualquer indício do Sol, incrivelmente branca. Magra, com seus 64 quilos, perfeitamente distribuídos, peitos médios, bunda considerável, cinturinha de boneca, do tipo raro na era calça cintura baixa.
Camiseta azul, com alcinhas e cortes horizontais atrás... Saia preta, curta, mostrando suas belas coxas, salto alto agulha, azul escuro. Vai para a rua dita como a das putas.
Não perco tempo, esta é a hora tão esperada, meu carro está a uns 30 metros, do outro lado da rua, protegido pelo escuro, um Opala, 1976. Dou partida, o ronco do motor soa terrivelmente brutal, ecoando pela rua já deserta. Vou em sua direção, não me preocupo em ser discreto, não preciso, sou um homem invisível. Paro o carro em sua frente, do outro lado da rua, na contramão, me inclino sobre o banco do passageiro e desço o vidro. Ela vem em meu encontro, não diz "boa noite" e nem um mero "oi", vai direto ao ponto, "a hora é 200", comprometida pela primeira fala, não sabe vender, ou se vender. Embora tenha um belo corpo, sua primeira apresentação como puta é uma tragédia. Insisto, "Boa noite meu bem, entre", abro a porta. Ela para, trava, olha ao redor, e finalmente entra no carro. Bate a porta com força, o suficiente para me irritar com o barulho e o descaso com o meu tão prestigiado carro.
Se senta, não coloca o sinto, pernas bem fechadas, como que travadas, puxa sua saia para baixo, e coloca sua bolsa em cima de suas coxas.
Pergunto se ela tem preferência por algum lugar, "você escolhe", digo, "minha casa?", com descaso ela acena positivamente com a cabeça. Bem, que assim seja, vamos para a minha casa. Dou balão no final da rua, e desço pela Amazonas, logo já chego em meu doce lar. Silencio, ela não diz nada, não se meche, não me provoca, fria. Abro o portão de casa, controle remoto, estaciono o carro e desligo o motor. Deixei a porta da sala só encostada, odeio a enrolação das chaves, ela não abre a porta do carro, fica plantada, o que ela quer, que eu a pegue no colo como um recém casado? A chamo, "Hey garota!", ela se assusta, e meio que acorda de um transe, abre a porta e sai, bate o pé na porta, dá um leve "ai" e vem em minha direção, a puxo com violência contra mim, sem nenhum cuidado, aperto sua bunda e a empurro contra a parede da sala. Passo as mãos em seus ombros, descendo as alcinhas de sua camiseta, começo mordendo seu pescoço, leve fungadas, vou subindo, mordo a sua orelha e a puxo contra mim. Fungo em seu ouvido, enquanto levanto sua camiseta, ela ergue os braços e eu a deixo sem a roupa de cima, com seus lindos peitos a mostra, agora são meus, minhas mãos por debaixo da saia, a masturbo, delicadamente, como se fosse minha própria mulher, mordo seus peitos, e os aperto com a mão esquerda. Ela toma uma atitude, tira a calcinha e a joga no meu sofá. Puxa meu corpo contra o dela, só de saia e salto alto. Pego ela pela cintura, e vamos, aos esbarrões, em direção a cozinha. A sigo com as duas mãos em sua bunda, e a ergo, a colocando sentada em um balcão lateral ao faqueiro. A distraio, não quero que ela veja, pego uma faca media, com a mão direita, levo perto do se pescoço, e antes que ela se quer veja, abro um corte, na parte de traz do pescoço, indo da esquerda para a direita, pegando por último em toda a lateral do pescoço, propositalmente, aqui se encontra suas principais veias.  Ela não grita, nem vê, sangue jorra e ela cai sobre mim, continua sentada no balcão, com a cabeça em meu ombro.
A pego no colo e a levo para o banheiro, vamos tomar um banho antes de fudermos.
O sangue finalmente para de sair do corte.
Começo lavando o ferimento, passando por seus peitos, pescoço, um banho completo.
Fecho o registro do chuveiro, a levo para o meu quarto, deitada em minha cama, vou secar seu corpo, volto ao banheiro e pego a toalha, faço o trabalho com todo o cuidado, não quero ver mais sangue pela minha casa.

Seu corpo já está gelado, deixo na posição ideal para mim, sem preservativos, não há mais necessidade, seus planos de ter filhos foram cancelados.

Apenas uma noite

Me sinto como parte dessa noite. Sou como o pássaro que define as estações, como a pomba da rodoviária, me sinto melhor assim. Um andarilho sem direção, caminhando entre casas de trabalhadores, de mães, de irritante adolescentes, de carros se preparando pelo dia que esta por vir. Observo cada casa, cada muro e suas imperfeições, as coloridas pichações que os dominam e lhe dão um rosto de descontração. Os muitos nomes inelegíveis, desenho de homens cabeçudos e mulheres nuas, e por um momento gostaria de entender tudo isso.  

Chego na esquina, onde sou mais uma vez abordado por aquela prostituta, apenas sorri e me dá boa noite, retribuo a ação e acrescento, “Uma ótima noite para caminhar, não é mesmo?”, sua boca contornada por um batom vermelho volta a se manifestar, um sorriso se abre dando liberdade para lhe mostrar seus dentes, amarelados e tortos, denunciando seu tempo de profissão. Morena, com cabelos cacheados em um castanho claro, próximo ao loiro, vestia uma camisa próxima ao seus pequenos peitos, que estão aprisionados entre insistentes bojos do sutiã, que os forção a ficarem próximos, dando a impressão que são maiores. Abaixo de seu umbigo se iniciava uma mini saia vermelha, justa, curta o suficiente para ver seu útero. Suas pernas finas surgiam logo abaixo, vejo algumas marcas vermelhas contracenando com seu salto alto agulha. Seu nome era Ana, ou Amanda, não sei, talvez os dois.

Descrição Inferno

O piano de Fréderic se confunde com os meus berros, a noite chega, o belo luar me faz enxergar o que parece ser a minha última noite de vida.
“Hey, criança, será que podes me ouvir?”
Vomito sangue e clamo pela minha morte, onde está você Shinigami? Orgias infernais banhadas a lagrimas de pecaminosas almas... Vejo o Rio Aqueronte, bile, esperma e pus, cadáveres são carregados pela correnteza, uma cachoeira está mais adiante.
Na parte mais elevada se encontra um trono, vejo Belphegor fudendo com dois travestis, um deles não tem cabeça, apenas um pescoço decepado dando esguichos de sangue, que parece que nunca irá terminar.
Vejo crianças em rodas entoando o verdadeiro nome de Satan, pessoas sendo devoradas vivas, necrofilia por toda a parte. Definitivamente, este é o lugar mais medonho que você possa imaginar.

Gritos se misturam com gemidos, algo como o sêmen e sangue, se procuram e suavemente se tocam, enlaçam, formando o mais temido som já ouvido. Uma prostituta velha solta um grito desesperador, vejo seus olhos retorcerem, e um tom branco e mórbido toma seu corpo, ela não está morta, apenas pagando seus muitos pecados.

A casa

“Não existem coincidências, apenas o inevitável”
Não me orgulho muito da minha época de colegial, mas se tem uma coisa que aprendi em minha juventude, vendo dezenas de desenhos japoneses consecutivos, foi a frase acima, não me refiro a ela, ou ao fato de ser uma das minhas frases preferidas, mas sim ao significado por trás dela.
Era uma noite qualquer, uma dentre tantas outras noites solitárias em que me embebedo em casa, ao menos até o momento em que descido dar uma simples volta no quarteirão. Sou do tipo cético, sem crenças, sem deuses, mas nem por isso deixo de procurar pelo oculto, pelo contrário, o objetivo que dei a minha vida é a busca pelo sobrenatural, por mais controverso que isso seja. Então, nessa já referida noite, descido sair de casa, pego o Marlboro e o isqueiro, meus companheiros, e vou por meus pensamentos em dia, aproveitando para dar uma andada pela vizinhança deserta. Não sei ao certo que horas eram, deveria ser 1:00 ou 2:00 da manhã, estava frio e ventando, não levo blusa. A rua estava vazia, como o esperado, nem ao menos um maldito carro estacionado, nenhum sinal de habitação, a não ser duas ou três casas por quarteirão, a maioria em construção ou abandonadas. Bem-vindo ao bairro em que vivo, pelo visto o meu vazio é contagioso.

Caminho vagarosamente, observando o desenho da calçada, algo que imita pedras, mas é apenas concreto desenhado, mais uma das muitas mentiras deste lugar. Postes com suas luzes acesas, por exceção de um ou dois, mortos pelo tedio. A noite estava quieta, sem nuvens, sem Lua, apenas um vento frio e gelado, me fazendo me arrepender por não ter levado uma blusa de frio. Caminho em direção ao início da rua, sem grandes diferenças ao resto, apenas uma direção que por alguma razão decidi tomar. Estava passando na frente de uma praça, a única desse bairro, e tento me lembrar da última vez que vi uma criança naquela areia, me foge da memória, talvez nunca tenha tido alguma. Logo a frente observo uma casa abandonada, pilhas de tijolos e telhas em sua frente, matos saindo do que era pra ser sua garagem, abandonada em sua construção, agora a mercê de chuvas e do desgaste do tempo, o que é uma pena. Por um momento sinto o vento ficando mais forte e gelado, um arrepio percorre pelo meu corpo, e a única coisa que posso fazer é continuar olhando para aquela casa, hipnotizado. Ouço o barulho de uma porta, algo como dobradiças enferrujadas abrindo e fechando, o som da madeira batendo, se debatendo contra o vento. Aquilo me arrepia mais que o vento, a curiosidade me chamando para adentrar aquele lugar, mas meus instintos me ordenando a dar meia volta e retornar para a minha casa. Apenas fico parado em sua frente, ouvindo aquele barulho de porta e tentando imaginar o que esta acontecendo em seu interior. Imagino a possibilidade de haver pessoas lá dentro, escondidas na escuridão fornecida pelas paredes e telhado. E naquele momento percebo que tudo o que eu queria era encontrar alguém para conversar, humano ou não. Estava ficando louco, ou apenas solitário, talvez os dois.

Soneca

Ainda não sei exatamente o que aconteceu, mas com o propósito de registrar o ocorrido para que este não se perca como milhares por ai, vou descrever o que aconteceu nesta última semana. Era uma terça-feira, as 13:29, estava sozinho em casa, algo muito comum, ouvindo alguma música qualquer. O silencio era predominante, dando o ar de tédio naquele dia já definido como pacato.
Ouço alguém gritando, o som vem do lado de fora da casa, estava com fones de ouvido, demorei pra entender o que estava acontecendo. Me levanto, saio do meu quarto e vou até a sala, um foda-se a forma que estava vestido, blusa de frio e bermuda, simplesmente abro a porta.
Era uma mulher. Velha, digo, 50 anos? Por volta disso, ela fica em silêncio, vejo que ela veio de moto, cargo 125, olho no rosto dela na espera de uma resposta.
_Bom dia, sou da prefeitura, vim fazer as medições da casa.
Ok, mesmo sem ninguém ter me avisado, e levando em consideração que a casa é nova, ela deve estar dizendo a verdade. Faço uma expressão de desentendido, levantando a sobrancelha direita e abaixo a esquerda, coço a barba, olho bem a forma como ela está vestida, aparentemente uma funcionaria publica, com o uniforme coberto pelo agasalho...
_Bom Dia... Bem, fique à vontade... Não repare que a casa ainda não está totalmente mobiliada.
Na verdade, só a sala ainda está vazia, mas este sendo o primeiro cômodo que ela iria ver...  Foi mais uma explicação mesmo. De qualquer forma, ela acena com a cabeça de forma positiva, dá um pequeno sorriso, desses de tia, e entra sem pedir uma maldita licença. Ela passa por mim, e a encaro por trás, espantado com sua falta de delicadeza com um completo desconhecido. Logo ela saca de sua calça jeans, surrada, uma trena, e com um papel preso em uma prancheta ela dá início a suas anotações. Me debruço sobre uma das cadeiras da sala de jantar e observo calmamente aquela senhora em seu trabalho.
Em cerca de 10 min ela já havia terminado o seu trabalho, pergunto se precisa de mais algo, ela abaixa a cabeça, sorri, e tudo fica na maior escuridão. Bem, não sei ao certo o que aquela tia da prefeitura fez comigo, mas meu corpo ficou muito dolorido, acordei já a noite, jogado no chão da sala, e por mais vergonhoso dizer isso, estava completamente pelado, ou a parte mais vergonhosa seria cogitar um suposto estrupo daquela velha maldita? Meu coração acelera, tento me levantar, mas minha visão está embaçada, isso é muito embaraçoso. Passo mais alguns minutos jogado naquele chão gelado, me recomponho e finalmente estou em pé novamente.
Caminho cambaleando, apoiando nas paredes, percebo que meu nariz está sangrando... Aquela vaca... Vou até meu quarto, acendo a luz e vejo que está tudo em ordem, parece que ela não mexeu em nada. Me observo no espelho do meu banheiro, estou com várias marcas roxas pelo meu corpo, em meu rosto, e o mais estranho, estou sem nenhum pelo em meu corpo. A minha barba... Cinco longos meses para crescer, e se foi, completamente... Até minha sobrancelhas? Mas que porra. Visto uma roupa, e tento encontrar meu celular, ele está em minha mesa, onde o tinha deixado, pelo menos é o que eu lembro. São 19:36, passei mais de 6 horas desacordado. Me sento, e penso no que devo fazer, ligar para a polícia e dizer que acho que fui estuprado por uma mulher? Contar para meus pais que em meus plenos 20 anos abri a porta para uma louca? Isso tudo é uma tremenda loucura.
 Aquela foi apenas uma noite dentre várias que viriam que eu passei a claro tentando entender o ocorrido. Ou seria medo de fechar os olhos? Naquele mesma noite, horas mais tarde, percebi que tinha uma estranha cicatriz em meu pulso, e a medida que passava ela ia ficando cada vez mais escura, até ganhar a forma de um símbolo, o que só aumentou ainda mais o meu desespero.
Fiz o que me pareceu mais conveniente, entrei em chats anônimos na internet, procurava alguém que pudesse me ajudar. Tirei foto do símbolo que surgiu no meu pulso, e depois de algumas mensagens trocadas com completos desconhecidos o meu veredito foi dado. A velha era um ET, e eu fui a porra de um experimento.

Ela não me estuprou, o que foi um imenso alivio, ela estudou o meu corpo, e depois me marcou com aquele símbolo.