A noite esta fria e
desértica, ninguém nas ruas, céu com poucas estrelas e um tímido Luar. A rua
cinza e calada, em sua esquina uma boneca lamenta o seu cruel destino. Seus
membros foram arrancados, só resta seu tronco com a cabeça, amarrados com arame
farpado em torno de uma cruz de madeira, enfincada em um buraco no meio da
calçada. Garrafas de pinga e o que parece ser um sapo morto estão ao seu redor,
lhe fazendo companhia. Me aproximo, imagino uma criança feliz brincando com a
boneca, mas logo minha imaginação é tomada pela obscuridade daquela cena a
minha frente.
Demônios com asas,
magros a ponto de os ossos se destacar dentre a carne que aparenta estar podre,
cheiro de enxofre no ar. Aranhas gigantes tomam conta da rua, surgem das
sombras, dos bueiros e rapidamente me cercam, impedindo que eu fuja sem ter que
encarar ao menos uma dezena delas. Posso ouvir uma música emergido no ar, como
uma maldição preste a entrar em seu ápice, Kathaarian Life Cod é entoada como
se estivesse na porta do inferno, sendo chamado para queimar eternamente ao
lado de Satan.
Uma das aranhas vem em
minha direção, esta é maior e terrivelmente mais horrível que todas as outras.
No centro de seu corpo está uma cabeça de boneca, com os fios de cabelos
arrancados, olhos furados, e em sua testa uma suástica torta e mal feita pode
ser vista. A boca da cabeça de boneca se abre, palavras saem em forma de
gritos, ecoando por aquela rua deserta, sangue vem em seguida, e logo a proporção
daquilo se aumenta, as aranhas vem em minha direção, grunhidos de almas
gritando do mais profundo inferno, sou apenas um amontoado de carne sendo
devorado por malditas aranhas. Não consigo correr e nem gritar, fecho meus
olhos e estou na mais profunda escuridão.
Acordo assustado, estou
deitado em minha cama, não consigo me mexer, nem ao menos abrir a boca, aquela
sensação horrível de acordar de um pesadelo a noite e ter que esperar esse
efeito passar. Me recomponho e logo os movimentos voltam ao meu corpo. Me
levanto e vou até o banheiro, me olho no espelho e debruço meu rosto na pia,
deixando a agua gelada correr sobre minhas olheiras descendo até minha barba,
volto a me olhar no espelho. Tem algo no meu lábio, me aproximo do espelho,
abro a minha boca para ver com melhor facilidade, uma aranha sai de dentro da
minha boca, fico pasmo e mal posso acreditar que isto está acontecendo. Minha
garganta começa a arder e logo não consigo mais me controlar, sinto meu corpo
queimando de dentro pra fora, me viro contra a parede do banheiro, e bato minha
cabeça contra o azulejo com a maior força que poderia ter em um momento como
esses. O branco do banheiro logo é tomado pelo vermelho do meu sangue, meu
corpo cai sobre a poça de sangue e a consciência não mais me pertence. Sou
apenas um corpo gelado que recebera a autóptica de suicídio.