segunda-feira, 17 de julho de 2017

Pêndulo

Domingo, 16/07/2017
Estou em uma sala fechada, paredes brancas, piso vermelho escuro, velho e desgastado.
Na parede a minha frente, uma pequena janela fechada, com grades e vidros quebrados, por onde entra a pouca claridade que temos na sala.
Estou sentado em uma cadeira de ferro, preta, simples, e em minha frente uma pequena mesa de madeira, sem verniz, com vários desenhos e rabiscos.
Do outro lado da mesa, em uma cadeira igual a minha, tem um homem sentado, com os braços apoiados sobre a mesa, e os dedos cruzados.
Ele faz cara de machão, tentando impor respeito aos seus enormes braços.
Ele fala alto, quase gritando, dizendo que sou um moleque mimado, um “leite com pera”.
Ele fala muitas coisas.
Não ouço metade do que ele diz, estou mais preocupado com o fato da minha moto estar com pouca gasolina, e provavelmente vou ter uma pane seca a uns 2 quarteirões da delegacia.
Estou mais preocupado com o fato de ser condenado e ter que dividir a cela com outras pessoas.
Estou mais preocupado em ter que conviver fechado em uma cela com outras pessoas, que assim como ele, não param de falar.
Ele percebe que não estou ouvido, e dá um tapa na mesa e pergunta qual o meu problema.
Dou risada, e percebo em seu rosto que essa não foi uma boa atitude no momento.
Dou risada, e digo que não tenho a tarde toda para descrever os meus problemas.
E que possivelmente ficaremos nesta sala pelas próximas 5 horas.
Ele saca a arma e coloca sobre a mesa, e estrala os dedos.
Mas eu estou mais preocupado em memorizar cada detalhe.
E ele faz alguma ameaça.
_Olha, se a sua intenção é me matar, ou me dar alguns socos, vai logo.. Tenho que trabalhar amanhã..
Ele diz algo sobre isso ser sério, mas não estou brincando, eu realmente tenho que trabalhar amanhã.
Ele me pergunta sobre a quantidade de materiais sobre armas e bombas em meu computador.
Ele me pergunta sobre o LSD e sobre o tijolo de chá.
_Não fazia ideia que tinha essas coisas em casa.
Ele diz que vai ser obrigado a partir para o lado difícil.
Policial bom/Policial mal.
Adoro isso.
Isso vai dar um bom texto.
Ele puxa a minha barba em sua direção, eu caio sobre a mesa, em uma posição constrangedora.
Começo a rir.
Não tenho problemas com pessoas fortes ou agressões físicas.
Meu problemas é com pessoas que acham que sabem de mais.
Pessoas com síndrome de superioridade.
Já passei da etapa de ter medo de sentir dor.
Meu problema é minha mente.
E enquanto ele segura a minha barba, eu digo tudo isso a ele.
Ele dá um tapa em meu rosto.
E com isso minha barba escapa de sua mão direita.
Caio sobre a mesa, em uma posição ainda mais desconfortante da anterior.
_isso não vai funcionar.
Se isso é uma ameaça para me tirar da vida que tenho atualmente, acho que vou aceitar.
Eu tenho que trabalhar amanhã, a menos que tenha um bom motivo para faltar.
Ser preso com 5 quilos de maconha e algumas cartelas de LSD parece um bom motivo.
Me sento novamente na cadeira, e percebo que boa parte da minha barba ficou sobre a mesa.
_Você fudeu com minha barba cara, porque você fez isso?
Ele fica irritado e pede para que eu continue.
_Confissão após agressão, é válida?
Ele fica vermelho, da outro tapa sobre a mesa, se levanta e sai.
Não me lembro exatamente o que aconteceu após isso, na verdade eu não me lembro de muitas coisas.
Mas saio da delegacia, com o lado direito da barba faltando um pedaço.
Meu rosto esta vermelho, com a marca perfeita da mão daquele cara.
Ela perguntou o que aconteceu.
Invento uma história sobre estar bêbado e irritar travestis.
Ela acredita e ri.
_Bem feito, seu idiota.
Eles devolveram meu computador.
Pergunto a Ele o que exatamente aconteceu.
_O importante é que você está bem.
Ele fala isso olhando para o lado direito do meu rosto.
O tanque da minha moto está cheio, e meu retrovisor esquerdo quebrado.
Não faço ideia de como isso aconteceu.

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