“Não existem coincidências, apenas o inevitável”
Não me orgulho muito da minha época de colegial, mas
se tem uma coisa que aprendi em minha juventude, vendo dezenas de desenhos
japoneses consecutivos, foi a frase acima, não me refiro a ela, ou ao fato de
ser uma das minhas frases preferidas, mas sim ao significado por trás dela.
Era uma noite qualquer, uma dentre tantas outras
noites solitárias em que me embebedo em casa, ao menos até o momento em que
descido dar uma simples volta no quarteirão. Sou do tipo cético, sem crenças,
sem deuses, mas nem por isso deixo de procurar pelo oculto, pelo contrário, o
objetivo que dei a minha vida é a busca pelo sobrenatural, por mais controverso
que isso seja. Então, nessa já referida noite, descido sair de casa, pego o
Marlboro e o isqueiro, meus companheiros, e vou por meus pensamentos em dia,
aproveitando para dar uma andada pela vizinhança deserta. Não sei ao certo que
horas eram, deveria ser 1:00 ou 2:00 da manhã, estava frio e ventando, não levo
blusa. A rua estava vazia, como o esperado, nem ao menos um maldito carro
estacionado, nenhum sinal de habitação, a não ser duas ou três casas por
quarteirão, a maioria em construção ou abandonadas. Bem-vindo ao bairro em que
vivo, pelo visto o meu vazio é contagioso.
Caminho vagarosamente, observando o desenho da
calçada, algo que imita pedras, mas é apenas concreto desenhado, mais uma das
muitas mentiras deste lugar. Postes com suas luzes acesas, por exceção de um ou
dois, mortos pelo tedio. A noite estava quieta, sem nuvens, sem Lua, apenas um
vento frio e gelado, me fazendo me arrepender por não ter levado uma blusa de
frio. Caminho em direção ao início da rua, sem grandes diferenças ao resto,
apenas uma direção que por alguma razão decidi tomar. Estava passando na frente
de uma praça, a única desse bairro, e tento me lembrar da última vez que vi uma
criança naquela areia, me foge da memória, talvez nunca tenha tido alguma. Logo
a frente observo uma casa abandonada, pilhas de tijolos e telhas em sua frente,
matos saindo do que era pra ser sua garagem, abandonada em sua construção,
agora a mercê de chuvas e do desgaste do tempo, o que é uma pena. Por um
momento sinto o vento ficando mais forte e gelado, um arrepio percorre pelo meu
corpo, e a única coisa que posso fazer é continuar olhando para aquela casa,
hipnotizado. Ouço o barulho de uma porta, algo como dobradiças enferrujadas
abrindo e fechando, o som da madeira batendo, se debatendo contra o vento.
Aquilo me arrepia mais que o vento, a curiosidade me chamando para adentrar
aquele lugar, mas meus instintos me ordenando a dar meia volta e retornar para
a minha casa. Apenas fico parado em sua frente, ouvindo aquele barulho de porta
e tentando imaginar o que esta acontecendo em seu interior. Imagino a
possibilidade de haver pessoas lá dentro, escondidas na escuridão fornecida
pelas paredes e telhado. E naquele momento percebo que tudo o que eu queria era
encontrar alguém para conversar, humano ou não. Estava ficando louco, ou apenas
solitário, talvez os dois.
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