Me sinto como parte dessa noite. Sou como o pássaro que
define as estações, como a pomba da rodoviária, me sinto melhor assim. Um
andarilho sem direção, caminhando entre casas de trabalhadores, de mães, de
irritante adolescentes, de carros se preparando pelo dia que esta por vir.
Observo cada casa, cada muro e suas imperfeições, as coloridas pichações que os
dominam e lhe dão um rosto de descontração. Os muitos nomes inelegíveis,
desenho de homens cabeçudos e mulheres nuas, e por um momento gostaria de
entender tudo isso.
Chego na esquina, onde sou mais uma vez abordado por aquela
prostituta, apenas sorri e me dá boa noite, retribuo a ação e acrescento, “Uma
ótima noite para caminhar, não é mesmo?”, sua boca contornada por um batom
vermelho volta a se manifestar, um sorriso se abre dando liberdade para lhe
mostrar seus dentes, amarelados e tortos, denunciando seu tempo de profissão. Morena,
com cabelos cacheados em um castanho claro, próximo ao loiro, vestia uma camisa
próxima ao seus pequenos peitos, que estão aprisionados entre insistentes bojos
do sutiã, que os forção a ficarem próximos, dando a impressão que são maiores. Abaixo
de seu umbigo se iniciava uma mini saia vermelha, justa, curta o suficiente
para ver seu útero. Suas pernas finas surgiam logo abaixo, vejo algumas marcas
vermelhas contracenando com seu salto alto agulha. Seu nome era Ana, ou Amanda,
não sei, talvez os dois.
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